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27 de maio de 2017

“Mercado imobiliário depende de três coisas: inflação, estabilidade econômica e crédito”

O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), Cláudio Cunha, destaca que para a retomada do mercado é preciso haver estabilidade. Em entrevista ao jornal A TARDE, antes das denúncias envolvendo Michel Temer, ele fez observações sobre o futuro dos empreendimentos comerciais em Salvador e cobrou do setor público mais investimentos em segurança e ordenamento jurídico para que os bairros se desenvolvam.

A pesquisa mensal da Ademi-BA aponta que em alguns bairros já começa a haver uma demanda por imóveis?

Há vários bairros da cidade onde você encontra uma demanda por determinado tipo de produto. Hoje em toda a cidade há apenas 620 unidades comerciais em estoque. É muito? Se fosse em uma região só, sim. Mas nessa região (Avenida Tancredo Neves) só há unidades no Hangar, no Mondo Plaza e alguma coisa no CEO (CEOSalvador Shopping). Do Iguatemi para a Barra, não há disponibilidade alguma de salas comerciais. Que existe demanda, existe. Como não há oferta, há aí uma oportunidade para investir.

Mas a questão é que deixou de haver lançamentos...

Nos últimos anos, os lançamentos de salas comerciais que ocorreram foram aqui na Tancredo Neves. O Comércio (antigo centro financeiro da cidade) praticamente veio todo para cá nos anos 1990. Os lançamentos do segmento foram todos nessa área e o centro financeiro acabou ficando aqui. Só que há um problema de mobilidade. O cara que mora na Barra pega esse engarrafamento todo para vir à Tancredo Neves. Se houvesse salas no meio do caminho, como na Garibaldi, ele não viria para cá. Quem mora em Itapuã, antes não tinha opção. Tinha que vir para cá. Hoje ele fica ali por Patamares, (na Paralela) já tem o Manhattan, o Cosmopolitan... Já tem algumas opções e evita também essa locomoção.

E o Centro Histórico? Com essas tentativas de revitalização, os bairros no entorno seriam atraentes para lançamentos comerciais?

Sim. Até o próprio Comércio, onde já há uma demanda consolidada. Existe uma pequena oferta e há uma disponibilidade muito grande de prédios abandonados. Ou porque estão tombados ou porque suas instalações físicas se deterioraram e ficaram vazios. Se houvesse um incentivo do poder público, estadual e, principalmente, municipal, pois falamos de legislar sobre a cidade, poderia haver a ocupação desses empreendimentos, com um retrofit no prédio. Para que se possa ter condições de reformar os prédios e fazer novos lançamentos. Como também residenciais. O Comércio à noite só tem as universidades. Depois, ele fica sem vida. Assim como o Centro Histórico. Existe um projeto da prefeitura (Revitalizar) de ocupar o centro com habitação. Seria interessante porque ao requalificar o bairro começa a haver outro tipo de oferta de produtos. Residenciais e comerciais. Mas para isso você tem que ter o poder público vindo à frente. Primeiro com segurança (policiamento) e com segurança jurídica. Para que o investidor coloque recursos nos imóveis precisa saber de que forma o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural) e a prefeitura vão agir para que não haja uma surpresa lá na frente. É preciso ver também com os urbanistas da cidade de que forma se pode melhorar aquela região e viabilizar um produto para venda. Essa segurança só o poder público pode dar.

Nesse momento, não há segurança jurídica para que a iniciativa privada invista nos casarões?

As determinações do Iphan e do Ipac têm que estar alinhadas com as da prefeitura para que haja um procedimento único. Tem que haver uma legislação e não várias.

Falando das incorporadoras, já há perspectivas de lançamentos à vista?

Há para o segundo semestre. O mercado imobiliário depende de três coisas básicas: inflação, estabilidade econômica e crédito. No crédito, a gente tem as taxas de juros caindo. Com perspectiva de que estejam abaixo de 9% no final do ano. O controle da inflação, que já está aí. Isso aumenta o poder de compra das pessoas. E a estabilidade. Da compra do terreno até o imóvel ficar pronto são pelo menos cinco anos. Eu diria que 90% dos imóveis são financiados. E qualquer pessoa para fazer investimento a longo prazo precisa se sentir segura. A estabilidade política e econômica é fundamental para trazer de volta o emprego e consequentemente o poder de compra.

Sobre a pesquisa, como estão se comportando as vendas de imóveis?

A região da Barra hoje praticamente não tem disponibilidade de imóveis de quarto e sala. Dois quartos, a mesma coisa. Temos uma oportunidade de mercado para novos lançamentos. Isso vai se refletir na redução de estoques. Aliás, é o momento de comprar imóveis porque são unidades construídas há um ano, dois anos e que têm um preço diferente dos novos lançamentos. Que são impactados pelos novos custos, pelo aumento dos insumos, e têm um preço reajustado. Então, comprar imóvel hoje para quem tem possibilidade é uma excelente oportunidade. E devemos sim ter novos lançamentos a partir do segundo semestre.

Já há algum tempo que é difícil encontrar apartamentos de dois quartos...

São os imóveis que mais vendem durante o ano. É o que nós chamamos de primeiro imóvel da família. Os produtos que têm mais demanda são os imóveis de dois e três quartos. Depois, a depender da região, pode se vender bastante o quarto e sala ou o quatro quartos.

Sobre crédito, o governo havia pensado em limitar os recursos para a construção de imóveis para a classe média, mas voltou atrás. Como o senhor avalia isso?

O governo pensou em limitar os recursos para os chamados apartamentos pró-cotistas, que são os imóveis que no Rio e São Paulo custam até R$ 950 mil e no resto do país, até R$ 800 mil. A vantagem desses imóveis é que, como eles utilizam recursos do FGTS, as taxas de juros são menores do que os do SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo). Enquanto a caderneta de poupança tem hoje 11% de taxa de juros, o pró-cotista está em torno de 8,5% ou 9%. É muito mais vantajoso para quem está adquirindo um imóvel usar o sistema pró-cotista. É preciso ter pelo menos 10% do valor do imóvel que quer comprar como reserva e ter uma conta ativa no FGTS há pelo menos três anos. O governo federal anunciou um remanejamento de verbas do FGTS para ter um recurso maior disponível e então vai permanecer o sistema pró-cotista.

http://atarde.uol.com.br
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